quinta-feira, 15 de setembro de 2011

MUNDO CADUCO

“Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas e as razões não encerram nenhum exemplo.” Foi o que disse Drummond na sua “Elegia 1938”. Setenta anos atrás o mundo já era caduco. Cheio de inutilidades. Que o trabalho dignifica e engrandece quem o faz, isso é certo. Porém as pessoas não parecem mais se importar com isso. Não sabem mais ao certo a razão de levantar todo dia cedo e continuar trabalhando.
Trabalhar é necessário. É preciso sobreviver de alguma forma. Talvez esteja aí o erro. O ser humano tem, ultimamente, trabalhado para sobreviver. Os homens não vivem mais. Esqueceram (por vontade própria ou imposta por um projeto de lei qualquer) como e o que é viver e não se vê nenhum empenho em reaprender, pelo menos um pouquinho, como se vive.
O mundo caducou e caducaram todos juntos. As formas já não fazem mais sentido. Não há mais ideal por trás da luta, do empenho, do suor de todo dia. Fazem-se empresários todos os dias, todas as horas. Ensina-se, o mais cedo possível, a estudar para se ter um bom emprego. Trabalhar para se ter um bom dinheiro. Endinheirar-se para quê mesmo? Esqueceram de colocar isso no currículo escolar.
É preciso que as crianças aprendam que não se trabalha para sobreviver. E sim que se trabalha para se viver. Viver tudo de bom e gratificante que o Mundo proporciona, conforme cada gosto. É preciso, urgentemente, que o significado de viver se desmembre do de sobreviver. Que o trabalho seja motivo de alegria por ser combustível para a vida, e não mais para a “sobrevida”.
O itabirano de sete faces (o quem sabe muito mais) encerra dizendo que “aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan”. Uma vez escolhida a opção de sobreviver, aceitar tudo que o Mundo (ou os habitantes dele) é a conseqüência mais certa da escolha. Se não há entusiasmo para si próprio é certo que não haverá também para com a vida dos (des)semelhantes.

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